terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quando estar fora de si é estar em si: o êxtase em narrativas de Marge Piercy

As imagens construídas pelas ficções científicas de Marge Piercy têm apresentado tanto comprometimento político quanto poder imaginativo. Woman on the edge of time (1988) e Body of Glass (1992), por exemplo, são agora considerados clássicos do gênero e tomados como indicativos da complexa mistura de tons utópicos e distópicos das ficções produzidas nas últimas décadas.


Bauman (2007) defende que o consumo, o descarte e a fuga consistem nas atuais formas de busca por um lugar melhor, o que constitui, na verdade, “o exato oposto da utopia” (p. 108). A combinação destas perspectivas aparentemente contrárias, os discursos representados e a estruturação das narrativas nas duas obras de Piercy revelam a complexidade dos fatores históricos nas construções sociais e apontam para a inter-dependência entre os conceitos de utopia e distopia, uma vez que é a crítica desses fatores e construções que possibilita a projeção de um espaço alternativo.

Fundamentalmente preocupadas com os conflitos entre o desejo individual e a necessidade coletiva, as duas obras em questão, bem como a maioria das ficções distópicas de autoria feminina, revelam também o interesse em novas posições sociais e subjetivas, a partir da produção de identidades que não se encaixam em categorias fixas.

O objetivo deste artigo é analisar os dois romances a partir das representações das imagens do êxtase, observando o espaço descrito na narrativa, o ambiente e a mediação da experiência. O principal argumento é de que o êxtase, em ambas as narrativas, participa da construção das subjetividades. Ilustra-se ainda a forma como as obras compreendem esses espaços, destacando a tensão entre o estabelecimento de degraus qualitativos do espaço e da experiência de um “nós” institucionalmente constituído em oposição ao “outro”.

O termo êxtase “etimologicamente vem do grego ek-stasis” e “sugere a idéia de estar fora de si” (SCHIAVO, s/d, p. 06), quando “todo o ser do homem parece se fundir em gloriosa comunhão com a divindade” (LEWIS apud SCHIAVO, p. 06). Entretanto, embora a finalidade da experiência seja o contato com o divino, ela é geralmente motivada por razões sociais, como a cura de doenças, a satisfação pessoal e a condenação de condutas.

Trata-se, assim, de um fenômeno muito complexo, uma vez que se manifesta por meio de aspectos parapsicológicos e psiquiátricos, podendo ser definido de muitas maneiras, tais como êxtase, visão, transe etc., mas que será abordado aqui enquanto representação literária.

Schiavo (s/d) afirma que, normalmente, as cerimônias religiosas apresentam-se como o contexto ideal para o êxtase, que depende de vários elementos: jejum, oração, absorção de ervas ou bebidas, drogas, fumaça, dança, entre outros.

O fio condutor deste trabalho, porém, é a tensão proveniente da fragmentação espacial hierárquica que pode ser observada nas narrativas, a qual foi conceituada por Eliade (2001). O autor explica que “o sagrado manifesta-se como uma realidade inteiramente diferente das realidades ‘naturais” (p. 16), pois “equivale, em última análise, à realidade por excelência” (p. 18). Essa oposição revela-se, freqüentemente, como uma oposição entre o real e o irreal.

O espaço sagrado tem valor existencial para o homem religioso; tudo surge a partir de um ponto fixo, que é sacralizado e equivale à Criação do Mundo. Embora o espaço profano não possua frações privilegiadas, sendo constituído por fragmentos amorfos do universo, a experiência não-religiosa constrói lugares qualitativamente diferentes que variam de acordo com as necessidades humanas.

Os trechos selecionados para análise traçam espacialidades ligadas ao misticismo, à loucura e ao erotismo, oferecendo também subsídio para observar o ambiente e os meios para a manifestação do êxtase.

Enquanto representação literária, espaço e ambiente foram entendidos de acordo com as definições de Franco Junior (2009):



O espaço compreende o conjunto de referências de caráter geográfico e/ou arquitetônico que identificam o(s) lugar(es) onde se desenvolve a história. Ele se caracteriza, portanto, como uma referência material marcada pela tridimensionalidade que situa o lugar onde personagens, situações e ações são realizadas. [...] O ambiente é o que caracteriza determinada situação dramática em determinado espaço, ou seja, é o resultado de relações e “jogos de força” estabelecidos, normalmente, entre as personagens que ocupam determinado na história. (p. 45-46)



Os meios, por sua vez, foram tomados como tudo aquilo que serviu aos personagens para tentar atingir o êxtase. Nas duas narrativas, o corpo cumpriu este papel, pois era através dos sentidos, da conexão entre o corpo e a mente que ocorriam as visões e suspensões.



Body of Glass

Lançado em 1991 sob o título de He, She and It e ganhador do prêmio Arthur C. Clarke no ano seguinte, este romance de Piercy descreve uma cultura futurista que se baseia em oposições e tecnologia para mediar suas relações sociais. O “It” do título original referencia a imagem do ciborgue enquanto elemento de transgressão de padrões rígidos, a exemplo dos modelos essencialistas de identidade, como também aponta Booker (1994).

Composto por duas narrativas que se entrecortam, a principal se desenvolve segunda metade do século XXI e desenha espaços complementares, ao passo que a segunda é contada por uma das personagens ao ciborgue Yod, que é socializado pela neta da narradora, e se passa na cidade de Praga, no ano 1600, quando um rabino criou um golem para proteger seu povo contra o motim cristão.

A obra não aponta somente para a existência de algo além do tradicional ele/ela, mas principalmente para a superação de categorizações, em função do reconhecimento de identidades diversas e cindidas. O êxtase, conforme se argumenta, funcionaria como uma das formas de ampliação da consciência, de si e do outro de forma complementar.



1. Misticismo

Na narrativa secundária, o rabino Judah Loew é descrito como um homem racional e inteligente que dominava as palavras e realmente acreditava “na sacralidade do intelecto para [não ser capaz de] impedi-lo por meio da proibição de qualquer idéia que fosse.” (BG, p. 28)

Uma leitura fechada, observando a escolha lexical de diversos trechos, aliada à descrição do rabino e a exposição do contato com o divino parecem sugerir o desenvolvimento intelectual e o profundo conhecimento cultural como elementos imprescindíveis ao rito de contato com o divino, uma vez que a linguagem aparece como o próprio discurso lógico-racional.

Enquanto ser humano, Judah representa o pólo inferior da relação sagrado/profano. Entretanto, o conhecimento e a crença “na verdade de sua religião” (BG, p. 28) situam-no num espaço que não é profano nem sagrado e que, ao mesmo tempo, possui elementos de ambos.

A hibridez do rabino torna-o, dessa forma, o elo entre os dois pólos. A revelação da vontade divina encontra lugar na capacidade do sacerdote num espaço sagrado – o cemitério, que também carrega certa hibridez, devido ao simbolismo de vida e morte. Neste lugar de decomposição, o rabino cria o golem e indica a própria experiência mística como híbrida, pois, embora a revelação seja divina, os motivos são humanos: as ameaças de ataque ao gueto judeu.

O primeiro contato com o divino ocorre em sonho, retomando o conceito de êxtase como desprendimento da materialidade, o que parece reproduzir as experiências de Santa Teresa. A revelação da vontade de deus acontece durante o sono, quando os sentidos humanos repousam e não podem perturbar a compreensão da vontade superior. Assim, inicialmente, a experiência mística do rabino parece sugerir justamente o oposto daquilo que se defende neste artigo por apresentar o corpo como um empecilho à comunicação com o divino.

Na cena de criação do golem, contudo, o conceito de êxtase é alterado e a função do corpo evidencia-se:



O rosto do Maharal fica pálido de êxtase. Ele sente o poder que vem através dele. É o poder da criação. É sempre perigoso, é um raio que atinge a torre e o mundo impelido ao fim. É perpetuamente a entrada do Mundo na Matéria e tudo nasce de novo. Ele sente a energia de algo estranho e novo e terrível e focado em uma lança que o atravessava e perfurava o barro diante dele. Ele vê suas próprias mãos brilhando com um brilho branco azulado. Suas mãos crepitam. Seu cabelo eriça-se de eletricidade. (BG, p. 88)



O êxtase passa de separação da matéria para comunhão entre corpo e sagrado, uma vez que tanto o corpo quanto a vontade do rabino ficam à disposição do desejo de deus para a criação. Essa comunhão divina causa também sensações no rabino que são, até mesmo, percebidas visualmente.

O espaço do cemitério, onde também é descrita a segunda experiência, passa por um novo processo de sacralização. Ao contrário do sonho, o cemitério agora aparece como um espaço pseudo-real que é destruído para a construção de uma nova ordem. A criação do golem referencia a própria criação do universo, o que pode ser inferido a partir do uso de letras maiúsculas e minúsculas.

O cemitério torna-se um ponto fixo, conforme definição de Eliade (2001), para a orientação da nova ordem, mas continua um espaço híbrido, devido à sua constituição material e a sua importância simbólica.

A despersonalização que alguns podem sugerir na experiência mística de Body of Glass aparece como um sintoma do mundo extra-textual, o qual é temido e representado nas tentativas de se alcançar o êxtase pelo erotismo.



2. Erotismo e tecnologia

Na narrativa principal, a tecnologia cumpre fulcral papel na interação social e pessoal das personagens. No trecho selecionado, o espaço virtual ganha destaque e o corpo parece, mais uma vez, perder sua função, uma vez que a mente é projetada num espaço diferente sob a forma de spikes.

A experiência do homem não-religioso nesta narrativa, aparentemente, atinge o extremo da cisão entre o corpo e a mente para atingir o estado de gozo e delineia um espaço alternativo, como se afirmasse que o lugar do êxtase é outro que não o ordinário:



- Cruel? Ugi, eu não conseguia suportar não a tocar. Eu estava livre e odiava isto. Eu não poderia suportar passar a noite no outro lado da sala. [...] Eu poderia levar você de volta, Shira. [...] Eu tenho amigos, Shira. Eles fizeram um spike para mim. Eu uso quando preciso. Quando não posso viver sem.

- Um spike? [...] Que tipo de spike?

- Nós, Ugi. Nós, do jeito que costumávamos ser.

- Como pode ser isso?

- Você é uma simulação de computador. Porém, não funciona, como todos os spikes, a menos que exista um sistema nervoso para habitá-lo. Nos stimmies, são as sensações gravadas dos atores que você tem. Nos spikes, é você mesma.



Ela não conseguia respirar. Não conseguia parar de olhar para ele. Não conseguia se desvencilhar.



- Gadi, não quero voltar. Parece o inferno para mim. (BG, p. 337 - 338)



Segundo Eliade (2001), mesmo para o homem não-religioso, na “experiência do espaço profano ainda intervêm valores que, de algum modo, lembram a não homogeneidade específica da experiência religiosa do espaço” (p. 28). Estes locais são únicos e privilegiados, qualitativamente diferenciados.

No excerto acima, a mesma experiência baliza diferentes percepções dos mesmos espaços: o simbólico, a que o personagem alude, e o virtual, onde o simulacro do primeiro deve se concretizar.

Para Gadi, o espaço virtual desponta como o lugar das realizações plenas, onde ele deverá alcançar o sentimento de continuidade profunda, conforme define Bataille (1987). Sua busca, porém, revela-se frustrada não somente pela recusa de Shira, mas principalmente pela impossibilidade de sobrepujar a descontinuidade dos seres.

Até mesmo a projeção da mente dos dois personagens depende de seus corpos biológicos. Embora as imagens sejam simulacros de um passado efetivados nos spikes, as experiências que marcaram cada um deles alteraram suas subjetividades e corpos.

Embora a experiência dependa da projeção da mente na virtualidade, como se buscasse uma essência perdida, as sensações que porventura fossem produzidas estariam ancoradas naquelas percebidas pelo corpo biológico, mesmo modificado pelo tempo e experiências, e qualquer dano derivado repercutiria na materialidade, como em todas as experiências mediadas pela tecnologia descritas na obra.

Shira, em contrapartida, percebe essa experiência de forma negativa, pois ela representa o aniquilamento potencial da subjetividade. O êxtase proposto por Gadi exige o apagamento/a subtração de experiências, com o intuito de obter a continuidade de algo perdido, em suma, a despersonalização. O êxtase pretendido por ela encontra-se também num espaço outro, localizado entre o humano e a máquina, o feminino e o masculino, aquilo que se tem e aquilo que se deseja. Tudo isso se materializa na figura do ciborgue Yod, com quem estabelece um relacionamento.

Em ambas as percepções, a satisfação plena encontra-se em lugares considerados melhores e se relaciona diretamente com o entendimento acerca da construção subjetiva. Na sociedade futurista descrita em Woman on the edge of time, por outro lado, o erotismo parece algo integrado ao cotidiano. A maneira de perceber a experiência pela protagonista que viaja no tempo, porém, estabelece contrapontos que dialogam com o romance já comentado.



Woman on the Edge of Time

Lançado originalmente em 1976, o romance conta a história de Connie Ramos, uma chicana de 37 anos que é internada em um hospício após agredir o homem que agenciava sua sobrinha. A narrativa organiza-se em torno dos momentos da personagem no manicômio e daqueles em que ela viaja mentalmente a uma sociedade utópica do futuro, a convite de sua guia - Luciente, que é uma das habitantes do lugar.

Mattapoisett, uma comunidade de Massachusetts do ano 2137, é descrita como uma sociedade em que os direitos e deveres das pessoas são respeitados e onde inexistem o sistema de classes, a homofobia, o racismo, o consumo excessivo e o totalitarismo. O espaço descrito, assim, aparece como forma de compensar eventos do passado e do presente de Connie:



Sentiu-se feia, inchada com as drogas e tinha a pele amortecida descamando, lábios secos e rachados, cabelo liso e sujo e turvo com suor febril. [...] Pelo menos uma alucinação oportuna seria alguma companhia, de modo que ela deixou seus olhos fechados, encostou-se na parede e permitiu que a presença a preenchesse. (WT, p. 55)



De forma semelhante à criação do mundo na experiência mística de Body of Glass, o espaço utópico de Luciente depende de um ponto fixo para ser criado. O manicômio parece surgir como um lugar sacralizado às avessas. Na experiência não-religiosa, os espaços são formados por fragmentos amorfos e homogêneos, que ganham importância devido à relação estabelecida com eles. Para Connie, as experiências na enfermaria do hospício e o cotidiano da instituição sacralizam o espaço como o não-lugar de sua existência.



3. A loucura

As tensões espaciais percebidas no discurso, que também aparecem na estrutura do romance, sob a forma de dois níveis narrativos, traduzem os movimentos de Connie entre os mundos exterior e interior, os quais são representados respectivamente por Mattapoisett, bem como pelo manicômio e seu significado ontológico. (BIZZINI, 1996)

Para Foucault (apud BIZZINI, 1996), a identidade resulta de uma multiplicidade de relações sociais historicamente constituídas, que orientam as tecnologias que marcam os sujeitos. O pensamento foucaultiano ainda evidencia a idéia de que a identidade ocidental normativa é baseada na definição do Outro, simbolizado pelos marginalizados em Woman on the edge of time.

O espaço interior de Connie é o mesmo que a exila. Assim, a experiência de sair de si, ou da identidade que lhe foi imposta, aparece como a única chance para o desenvolvimento de uma nova identidade para a personagem, por meio de um solilóquio consigo mesma, que cria um espaço regido por Outras regras, conforme ilustrado no diálogo com Luciente:



- Você está doente?

- Doente. Louca.

- Nós não usamos essas palavras para significar a mesma coisa. [...] Sinceramente, eu nunca fiquei maluca, mas acompanhei Diana quando ela se voltou para si e... você me parece coerente demais. [...] (WT, p. 57)



O confinamento espacial da personagem estabelece uma analogia com o cerceamento sua mente e seu corpo. Quando Connie e outras internas são selecionadas para receber remédios que controlam suas emoções, a viagem empreendida a conduz a um espaço de dimensões distópicas, o que parece apontar o controle excessivo e as delimitações identitárias como uma violência à subjetividade.

Embora encontre um lugar para onde fugir, o controle exercido pelo manicômio marca o seu “eu” de tal forma que a personagem termina confinada ao espaço da loucura, após a lobotomia a que é submetida. Estruturalmente, o romance constitui uma armadilha para Connie: as viagens e os remédios administrados formam uma teia que aprisiona a personagem, como também aponta Bizzini (1996), e o último nível narrativo do romance arremata essa teia ao contar o destino de Connie, através de relatórios médicos, silenciando o discurso do Outro.



O êxtase, portanto, funciona como uma das estratégias das narrativas de Piercy para pensar as formas de produzir significados, constituir subjetividades e marcar identidades. As experiências de estar fora de si também parecem sugerir a possibilidade de novas percepções de si, sem descartar a importância da relação com o espaço ao redor.



REFERÊNCIAS



BATAILLE, Georges. O erotismo na experiência interior. In: _____. O erotismo. Tradução Antonio Carlos Viana. Porto Alegre: L&PM, 1987.

BAUMAN, Zygmunt. A utopia na era da incerteza. In: _____. Tempos líquidos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. rRio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

BIZZINI, Silvia Caporale. Narrating the exclusion: Woman on the edge of time. Estudios Ingleses de la Universidad Complutense, no. 4. Madrid: Servicio de Publicaciones UCM, 1996.

BOOKER, M. Keith. Woman on the edge of a genre: the feminist dystopias of Marge Piercy. Science Fiction Studies, [s/l], vol. 21, no. 64, novembro 1994.

ELIADE, Mircea. O espaço sagrado e a sacralização do mundo. In: _____. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Tradução Rogério Fernandes. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

FRANCO JUNIOR, Arnaldo. Os operadores de leitura na narrativa. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (ed). Teoria literária: abordagens históricas e tendências. Maringá: Eduem, 2009.

LANG, Charles et al. Subjetividade, corpo e contemporaneidade. Disponível em: Acesso em: 28 de junho de 2010

LOUCEIRO, Luís Malta. “As variedades da experiência religiosa” de William James revisitada. Disponível em: Acesso em: 28 de junho de 2010

PIERCY, Marge. Body of Glass. London: Penguin, 1992.

_____. Woman on the edge of time. New York: Fawcett, 1988.

SCHIAVO, Luigi. “Saco é saco, farinha é farinha!”: Reflexões sobre a Bíblia e literatura com base no gênero literário viagem celestial. Disponível em: Acesso: 17 de junho de 2010

SPARKS, Elisa Kay. Woman on the edge of time: an analysis. Disponível em: Acesso em: 11 de junho de 2010

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