sexta-feira, 31 de julho de 2009

A (não)leitura da semana

A Marca de uma Lágrima
de Pedro Bandeira


Escrito na década de 1980, A marca de uma lágrima conta a história de uma menina de catorze anos apaixonada pelo primo e que se torna testemunha de um crime, inicialmente considerado suicídio.

O título e a capa sugerem um drama infanto-juvenil, certo? O leitor se depara com uma cena inicial e as descrições do comportamento da mãe e tem certeza de que é um drama infanto-juvenil, certo? Certo! Mas a resposta é justamente o oposto, a não ser que o leitor seja aquele do tipo que não tem muitas expectativas em relação à leitura a ser empreendida, ou não tem nada na cabeça mesmo!

Alguém pode dizer que eu sou muito mal educada por escrever isso, que não tenho respeito pelos outros e que preciso aprender a respeitar os diversos gostos. Se fosse assim, funk como o "Bonde do Tigrão" deveria ser considerado mais um estilo musical com peculiaridades a serem respeitadas e aceitas. Claro, que merece respeito. Porém não deve ser aceito. Falo isso porque esse tipo de letra surge, na maior parte das vezes, da ignorância de nossa sociedade. Duvido que os autores dessa música tenham tido acesso à educação de boa qualidade.

Voltando ao asunto, a leitura desse livro me decepcionou bastante. Pedro Bandeira escreveu diversos livros, cujas histórias são muito empolgantes, mas esse realmente foi o prego enferrujado no caminho do Saci Pererê!

Comecemos pelo título e pela capa: A marca de uma lágrima

Quando vi a capa, pensei: já estou com dó dessa menina. Deve ter tido uma infância difícil e, agora que é uma mocinha, algo vai lhe acontecer e suas ações vão determinar um destino feliz ou infeliz.

Adendo: Para quem gosta de histórias assim, eu recomendo "Quem roubou minha infância?"

O livro de Bandeira:

Dividido em três capítulos - Uma paixão que nasce, Paixão que mata e Paixão que ressuscita, mudou a minha primeira idéia. Passei à hipótese de que se tratava de uma história de amor interrompida por algum motivo ou adiada sei lá. Um amor que não pôde ser vivido, mas teve um final feliz.

Adendo 2: P. Bandeira fez um livro (melhor) nesse exato estilo chamado Mariana. Esse vale a pena ser lido. Bobo, mas legal.

À medida que a leitura prossegue, entretanto, percebemos que não se trata de apenas uma marca de lágrima, mas várias! A personagem, chamada Isabel, chora o Rio Solimões todinho!
Mas não foi isso que me incomodou...

Não foi por frustar todas as minhas suposições que não gostei do livro. Quando lemos, levantamos hispóteses, fazemos suposições, nos envolvemos com os personagens, às vezes, é como se eu estivesse dentro da história. Estranho, né?? Bem, o que me deixou triste é forma como o livro foi construído.

OK, eu sei que não se trata de uma obra literária. Isso não tem, nem de longe, algum toque de José de Alencar ou João Cabral de Melo Neto. Mas... Mas... Eu realmente tinha expectativas! Eu li Pântano de sangue, também de Pedro Bandeira e achei muito bom! A história foi muito bem escrita (dentro de seu próprio gênero). Tinha uma aventura muito legal e um mistério com pistas... O que aconteceu dessa vez?

Os romances de Isabel são muito chatos e, francamente, não ligar a corretinha do "amigo" à corretinha do carinha com quem ela ficou no escuro, depois de tantas outras pistas, é meio ridículo! Isso me lembrou a versão original de "A Branca de Neve" que cai TRÊS vezes no golpe da bruxa!

Em algum momento do livro, a amiga de Isabel fala de seu "talento literário"... Talento literário?? Não posto aqui nenhum poema porque acho que feriria os direitos autorais, mas não sei se aquilo poderia ser chamado de "literário". Claro que aquilo é a fala de uma personagem de 14 anos, mas mesmo assim... Os textos são meio ridículos e alguns até possuem um conteúdo meio erótico (não que isso faça um poema ruim)...

Ahh, o erótico marca presença no romance e, em algumas passagens, de forma... não muito legal. Sei lá, falar em cobras e em aranhas peludas não me parece algo que uma garota falaria... Na primeira cena em que essas imagens são descritas, a personagem meio que é rejeitada pelo primo, dentro do laboratório, e o autor "sabiamente" diz que a aranha peluda sacudia-se loucamente...

No meio desse dramalhão, de querer o primo que namora a melhor amiga e não enxergar que ela gosta mesmo é do amigo, ela se torna testumunha de um crime. Ao contrário dos outros romances de Pedro Bandeira, a aventura aqui ficou meio rasa...

Avaliação:

Eu dou nota DOIS para esse livro. Não quero indicar nem como leitura de ônibus. Apesar de ter 176 páginas que podem ser lidas em uma tarde, a história promete muito: o título é bom, a capa é boa, o autor sugere bons temas para discussão (como a suposta anorexia da personagem, o fato de os pais dela se comportarem de forma tão apática etc), mas se perdeu durante o processo de escrita. Pena! Pedro Bandeira continua sendo bom, porém.

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